terça-feira, 28 de junho de 2011


promessa, poesia, Mabel
compositor de destinos, tambor de todos os ritmos: talvez o entendimento mais acalentador do que vem a ser o tempo.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ser, na expressão de Valéry, o olho que transforma o muro em nuvem. Apoiar-se sobre o que há de mais leve, as nuvens e o vento, e dirigir o olhar para aquilo que só pode se revelar por uma visão indireta. Toda uma paisagística está contida aí. Capaz de- sem deixar de dar concreção e espessura às coisas- subtrair peso do mundo. Leve, mas precisa e determinada como o vôo de um pássaro. Capaz de tratar a gravidade com graça. "Retirar o peso" é transformar o mundo em paisagem, pintá-lo com aquarela, com pastéis. Buscar imagens de leveza - grãos de poeira que turbilhonam no ar. Aliviar a paisagem de todo o seu peso até fazê-la semelhante à luz da lua. Transformar tudo em luz: ideário clássico da pintura de paisagem.

* Nelson Brissac Peixoto em Paisagens Urbanas. Grifos da minha irmã, também meus.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Tenha dó que ali sobram arestas, metades e quases. Tenha dó da menina, romanticida incompetente, cravo amassado em lapela de palhaço. Parte sem dó os pulsos da menina, hipérbole de vida que não vale se mal vivida.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Aqui um dos poemas mais fortes (e esse é um dito íntimo) da antologia Poesia Russa Moderna, mostra realizada por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.

Vielimir Khlébnikov (1885-1922).


Herdades noturnas, gengiscantem!
Crepitai, bétulas azuis!
Albas da noite, zaraturvem
Ao céu cerúleo mozerteante!
Goyam trevas como nuvens!
Roops¹ é um cirro soturno!
Voa uma tromba de risos,
Enfrento firme o verdugo,
Gargalham garras de gritos,
E em torno o silêncio escuro.
A mim convoco os valentes,
Saem dos rios os afogados,
O miosótis, estridente,
Declama a velames pardos.
Gira o eixo cotidiano,
Move-se a massa vespertina,
Nas águas da noite vogando
(Sonho) uma carpa-menina.
Mmáj² - pinhos ao vento!
Nuvens nômades de Báti!³
Como cains do silêncio
Palavras santas se abatem.
Passo tardo, cercado de tropas,
Asdrúbal azul vai ao baile das rochas.

1916

(Tradução de Haroldo de Campos)

¹Pintor e gravador belga Félicien Roops.
²O cã tártaro Mamáj (ou Mamai), cujo exército foi derrotado pelos russos no campo de Kulikovo. Essa batalha marcou o início da libertação da Rússia do jugo tártaro.
³Cã mongólico, fundador da Horda de Ouro; invadiu a Rússia em 1236.

domingo, 5 de junho de 2011

Há fumos que não posso tocar,
Onde estão seus ópios, suas cápsulas que enjoam?