terça-feira, 31 de agosto de 2010

RIVAL


Se a lua sorrisse, teria a sua cara.
Você também deixa a mesma impressão
De algo lindo, mas aniquilante.
Ambos são peritos em roubar a luz alheia.
Nela, a boca aberta se lamenta ao mundo; a sua é sincera,

E na primeira chance faz tudo virar pedra.
Acordo num mausoléu; te vejo aqui,
Tamborilando na mesa de mármore, procurando cigarros,
Desconfiando como uma mulher, não tão nervoso assim,
E louco pra dizer algo irrespondível.

A lua, também, humilha seus súditos,
Mas de dia ela é ridícula.
Suas reclamações, por outro lado,
Pousam na caixa do correio com regularidade encantadora,
Brancas e limpas, expansivas como monóxido de carbono.

Nem um dia se passa sem notícias suas,
Vadiando pela África, talvez, mas pensando em mim.


domingo, 29 de agosto de 2010




Combustão, esta que para mim é maisvida. É ver o que te foi dado fulgurar em não-matéria vacilante e radiosa. É capturar recordações e então promovê-las a antiguidade de uma idade média particular. Melhor de tudo seria ver aquele fino décor, artifícios falhos e bem mentirosos estalando e sumindo em cinzas. As falsas sensações do colorismo em digníssimo preto e branco. E nesse fogo entrar de corpo que este a carne não queima. De repente crua.

E o mais triste é que de incêndiária não tenho nada.

sábado, 21 de agosto de 2010

"Para exemplificar, notemos que aquilo que mais lhe agrada na terra é que ela seja comum e difusa, mais do que qualquer outra coisa e por causa dessa vulgaridade, ela muitas vezes tenha desencorajado os homens que não lhe dirigiam mais que um olhar distraído. Porque não se trata do conceito ideal da terra ou de sua inspiração sentimental, que tantas vezes animam os sábios e os idiotas, nem de suas relações com a humanidade... Trata-se da matéria ordinária que está diretamente sob os pés e que às vezes gruda nas solas, daquela espécie de muro horizontal, daquele plano que nos transporta e que é tão banal que escapa à visão, salvo nos casos de esforço prolongado. Aquela matéria da qual se poderia dizer que não há nada de mais concreto, pois nunca deixaremos de pisoteá-la sem os artifícios da arquitetura."

Duffet ou o ponto extremo, André Pieyre de Mandiargues, 1956.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010