segunda-feira, 20 de junho de 2011

Aqui um dos poemas mais fortes (e esse é um dito íntimo) da antologia Poesia Russa Moderna, mostra realizada por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.

Vielimir Khlébnikov (1885-1922).


Herdades noturnas, gengiscantem!
Crepitai, bétulas azuis!
Albas da noite, zaraturvem
Ao céu cerúleo mozerteante!
Goyam trevas como nuvens!
Roops¹ é um cirro soturno!
Voa uma tromba de risos,
Enfrento firme o verdugo,
Gargalham garras de gritos,
E em torno o silêncio escuro.
A mim convoco os valentes,
Saem dos rios os afogados,
O miosótis, estridente,
Declama a velames pardos.
Gira o eixo cotidiano,
Move-se a massa vespertina,
Nas águas da noite vogando
(Sonho) uma carpa-menina.
Mmáj² - pinhos ao vento!
Nuvens nômades de Báti!³
Como cains do silêncio
Palavras santas se abatem.
Passo tardo, cercado de tropas,
Asdrúbal azul vai ao baile das rochas.

1916

(Tradução de Haroldo de Campos)

¹Pintor e gravador belga Félicien Roops.
²O cã tártaro Mamáj (ou Mamai), cujo exército foi derrotado pelos russos no campo de Kulikovo. Essa batalha marcou o início da libertação da Rússia do jugo tártaro.
³Cã mongólico, fundador da Horda de Ouro; invadiu a Rússia em 1236.

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