quinta-feira, 14 de abril de 2011

Para você, conteúdos e formas são igualmente históricos; os dramas são indiferentemente psicológicos e plásticos. O social, o narrativo, o neurótico, não passam de níveis, de penitências, como se diz em lingüística, do mundo total, que é o objeto de todo artista: há sucessão de interesses, não hierarquia. Um artista, ao contrário do pensador, não evolui propriamente, ele vai varrendo, ao modo de um instrumento muito sensível, o novo sucessivo que sua própria história lhe apresenta: sua obra, Antonioni, não é um reflexo fixo, mas um moiré pelo qual passam, segundo a inclinação do olhar e as solicitações do tempo, as figuras do Social ou Passional e as figuras das inovações formais, desde o modo de narração até o uso da Cor. Sua preocupação com a época não é a de um historiador, de um político ou de um moralista, mas sim a de um utopista que procura perceber em pontos precisos o mundo novo, porque deseja esse mundo e quer já fazer parte dele. A vigilância do artista, que é a sua, é uma vigilância amorosa, uma vigilância do desejo.

* Barthes em carta a Antonioni.

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