quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Para os outros, o universo parece honesto. Parece honesto para as pessoas de bem porque elas têm olhos castrados. É por isso que temem a obscenidade. Não sentem nenhuma angústia ao ouvir o grito do galo ou ao descobrirem o céu estrelado. Em geral, apreciam os "prazeres da carne", na condição de que sejam insossos.
Mas desde então, não havia mais dúvidas: eu não gostava daquilo a que se chama "os prazeres da carne", justamente por serem insossos. Gostava de tudo o que era tido por "sujo". Não ficava satisfeito, muito pelo contrário, com a devassidão habitual, porque ela só contamina a devassidão e, afinal de contas, deixa intacta uma essência elevada e perfeitamente pura. A devassidão que eu conheço não suja apenas meu corpo e os meus pensamentos, mas tudo o que imagino em sua presença e, sobretudo, o universo estrelado...

Lord Auch em História do olho.

Um comentário:

  1. Não é prazer insosso o prazer.Não tem a devassidão "essência pura". É antes uma categoria moral cristã. O indivíduo elevado prescinde desta última. Ela, para ele, não têm qualquer significância na fruição do corpo. Já o indivíduo fraco é incapaz de desvencilhar-se delas e por isto norteia-se por elas.

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