terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A dor na conciência cessou ao enveredar apressadamente através das ruas escuras. Havia tantas lajes de pedra na calçada dessa rua e tantas ruas nessa cidade e tantas cidades no mundo! E no entanto, a eternidade não tinha fim. Ele estava em pecado mortal. E mesmo, mais um podia lhe vir. Isso podia acontecer num instante. Mas como assim tão de repente? Vendo, ou pensando ao ver. Os olhos vêem uma coisa sem primeiro haverem desejado vê-la. Depois, num instante, aquilo se dá. Mas será que essa parte do corpo compreende, ou o que é que acontece? A serpente, o mais sutil dos animais da terra. Ela deve compreender logo, quando instante, pecaminosamente. Sente, compreende e deseja. Que coisa horrível! Quem fez isso ser assim, uma parte bestial do corpo apto a compreender bestialmente e a desejar bestialmente? Era pois, então, ele, ou uma coisa inumana movida por uma alma inferior? A sua alma sujeita ao pensamento de uma vida tórpida e rastejante alimentando-se do tutano tenro da sua vida e engordando com o lodo do desejo. Oh! Por que era isso assim? Oh! Por que?

* Retrato do artista quando jovem, James Joyce.

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