sábado, 15 de janeiro de 2011

" (...) não que eu fosse ingênuo a ponto de lhe exigir coerência, não esperava isso dela, nem arrotava nunca isso de mim, tolos ou safados é que apregoam servir a um único senhor, afinal, bestas paridas de um mesmíssimo ventre imundo, éramos todos portadores das mais escrotas contradições (...)"

"(...) mas nem me passava então pela cabeça espicaçar os conflitos da pilantra, não ia confundir um arame de alfinete co'a iminente contundência do meu porrete, seriam outros os motivos que me punham em pé de guerra, estava longe de me interessar pelos traços corriqueiros de um caráter trivial, e nem eu ia, movendo-lhe o anzol, propiciar suas costumeiras peripércias de raciocínio, não que me metessem medo as unhas que ela punha nas palavras, eu também, além das caras amenas (aqui e ali quem sabe marota) sabia dar aos verbos o reverso das carrancas e das garras, sabia, incisivo como ela, morder certeiro com os dentes das idéias, já que era com esses cacos que se compunham o hábito de nossas intrigas, sem contar que - empurrado pra raia do rigor - meus cascos sabiam inventar a sua lógica (...)"

* Raduan Nassar em Um copo de cólera.

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