terça-feira, 16 de novembro de 2010

Todos os meninos lhe pareciam muito estranhos. Todos eles tinham pais, mães, roupas e vozes diferentes. Sentiu saudades de casa, desejou encostar a cabeça sobre o colo da mãe. Mas isso agora era impossível; assim, pois, desejou acabasse o brinquedo, o estudo e as orações para ir logo para a cama.
Bebeu outra xícara de chá e Fleming disse:
_Que é que há? Estás com alguma dor, ou o que é que há?
_Não sei _ disse Stephen.
_Vomita na tua cesta de pão _ disse Fleming _ pois estás com a cara branca como quê! Vomitando, passa logo.
_ Oh! sim _ disse Stephen.
Mas não era no rosto que ele se sentia doente. Pensou que estava doente mas era no coração, se é que se pode ter doença nesse lugar. Fleming era muito bonzinho em lhe perguntar isso. Ficou com vontade de chorar. Fincou os cotovelos sobre a mesa e começou a apertar e soltar as orelhas. Cada vez que abria os pavilhões das orelhas escutava o barulho do refeitório. Isso produzia um ruído como o de um trem à noite. E quando apertava os pavilhões das orelhas o estardalhaço se fechava como um trem entrando num túnel. Aquela noite, em Dalkey, o trem ia rangendo com o barulho de agora e, depois, quando entrou no túnel, o barulhão tinha sumido. Fechava os olhos e o trem continuava, fazendo barulho e calando; fazendo barulho e calando. Era gostoso ouvi-lo rugir e calar, e começar outra vez a rugir ao sair do túnel e em seguida tornar a ficar silencioso.

*James Joyce em Retrato do artista quando jovem.

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