quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Só resta uma possibilidade:ao exemplo da fúria opor outro, de horror aviltado. Sade e Goya viveram quase ao mesmo tempo. Sade fechado em prisões, muitas vezes no limite da raiva; Goya, o surdo, fechado trinta e seis anos na prisão de uma surdez total. Um e outro renovaram a sua esperança na Revolução Francesa, um e outro sentiram horror doentio pelo regime baseado na religião. O peso de excessivas dores foi sobretudo aquilo que os ligou. Ao contrário de Sade, Goya não associou dor e volúpia. Apesar disso, a obsessão da morte e da dor tiveram nele a violência convulsiva que as aparenta ao erotismo. Em certo sentido, porém, o erotismo é a saída, a saída infame do horror. Tanto o pesadelo como a surdez encarceraram Goya, sem ser humanamente possível dizer qual deles, Goya ou Sade, foi encarcerado com maior dureza. Que Sade conservou na sua aberração sentimentos de humanidade, não restam dúvidas. Pelo seu lado Goya, em gravuras, desenhos, pinturas (é verdade que sem violar leis) atingiu a aberração mais completa (aliás é bem possível que Sade tenha ficado, de uma forma geral, dentro dos limites das leis).

*Bataille em As lágrimas de Eros.

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