sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Jornal Unicamp – Com freqüência as vanguardas do século 20 vieram na esteira das mudanças dos modos de produção. Apesar da forte mudança de matriz tecnológica nas últimas décadas, não há sinais visíveis de novas vanguardas. Faz sentido a afirmação de que as vanguardas chegaram a seu ponto de esgotamento? Isto é irremissível? Ou as vanguardas seguem existindo e apenas não são percebidas como antes? Naquela mesma entrevista, há doze anos, Haroldo dizia que “os netos da geração de 45 parecem estar de volta, mais retrógrados e reacionários do que nunca”. É possível qualificar a poesia que se pratica hoje no Brasil, isto é, a poesia que tem mais livre curso entre nós? A volta à discursividade é necessariamente um retrocesso?

Augusto de Campos – Para mim, o sentido da palavra ”vanguarda” não está necessariamente ligado a grupos e movimentos, embora, sim, as mudanças tecnológicas afetem a poesia. Mas as questões sociais, também. E muitas outras coisas. Prefiro o conceito atemporal de ”invenção”, que tem como emblema o trovador provençal Arnaut Daniel, do qual só restaram 18 canções. No entanto, embora desgastada, a palavra “vanguarda” pelo menos não engana ninguém. Quem teria a coragem de dizer que Jorge Amado ou Paulo Coelho (“no offense”) são escritores de ”vanguarda” como se pode ainda dizer de Joyce ou Apollinaire? Essa história de que “as vanguardas” já cumpriram o seu papel histórico é argumentação defensiva dos que não souberam ou não puderam conversar com a sua época.

Nenhum comentário:

Postar um comentário