Daí que, ao adotar Roberto, o que estava ali não era uma cria sua, com traços específicos seus. A criança não tinha o sorriso do pai, ou a sobrancelha da avó, o que havia ali era um sorriso de criança como um todo, todas as crianças do mundo em uníssono. E assim, o que Isabella experimentou foi justamente esse todo humano, de traços universais, em uma existência que independia da sua. A maternidade tomou outra dimensão.
Hoje, lendo Whitman, voltei a experienciar um pouco dessa questão do pessoal e do todo. Nos poemas do livro Folhas de Relva, o autor vai de um extremo ao outro o tempo inteiro, em pontes lindamente construídas. A experiência rica de assistir nos escritos a sensibilidade particular do poeta se afogando numa vontade de abarçar o todo e vice-versa.
O engraçado é que no texto de introdução ao livro, escrito por Leminski, há uma menção a ecos de Whitman em Maiakóvski, que vão além do tom retórico, da grandiloquência, das revoluções que representam. Ambos se encontram também no narcisismo: "E já se vê no poeta de Song for Myself algo do gigantismo narcisista de Maiakovski, que se dá, simplesmente, como o centro do universo, a coisa mais importante que a vida tenha produzido neste planeta." Se nos poemas temos claro que o próprio para Whitman só é válido quando leva ao todo, o mesmo pode ser percebido na obra de Maiakoviski. Tua seiva é nossa, tua raiz.*
* Poema de Ezra Pound em que o mesmo propõe um pacto a Whitman, no original "Tua seiva é minha, tua raiz".
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